Folha de São Paulo – O juiz federal Sergio Moro mandou bloquear R$ 20 milhões do ex-ministro José Dirceu, mas o Banco Central só encontrou R$ 103.777,40 em duas contas dele, mantidas na Caixa Econômica Federal e no Banco do Brasil. O valor equivale a 0,5% do montante que o juiz mandara bloquear.
A maior parte dos recursos de Dirceu (cerca de R$ 96 mil) foi encontrada na conta que ele abriu para receber doações para pagar a multa aplicada pelo Supremo no julgamento do mensalão, de R$ 971 mil.
A empresa de consultoria do ex-ministro, a JD, chegou a faturar R$ 39,1 milhões, mas está desativada e não tinha nada no banco, ainda de acordo com relatório do Banco Central enviado nesta quarta (19) à Justiça federal do Paraná.
Segundo o lobista Milton Pascowitch, que fez um acordo de delação após ser acusado de repassar propina em negócios entre empreiteiras e a Petrobras, Dirceu recebia de R$ 500 mil a R$ 800 mil mensais de dois fornecedores de mão de obra terceirizada para a estatal, a Hope RH e a Personal.
A assessoria de Dirceu diz que a situação do ex-ministro é bem pior do que revela o pedido de bloqueio do juiz federal. A empresa do ex-ministro deve cerca de R$ 900 mil em impostos. O pagamento de um imóvel que Dirceu comprou em São Paulo, ao lado do parque Ibirapuera, está atrasado dois meses. A casa na avenida República do Líbano foi comprada por R$ 1,6 milhão, com financiamento de R$ 1,2 milhão pelo Banco do Brasil, com prestações mensais de R$ 16 mil.
Dirceu deve ainda cerca de R$ 1 milhão para fornecedores, segundo seus assessores.
A situação de contas com valores baixos se repete com os principais auxiliares de Dirceu, presos juntos com ele no último dia 3 de agosto -os auxiliares foram soltos, mas o ex-ministro segue na custódia da Polícia Federal em Curitiba. Fernando Moura, por exemplo, que morou em Miami nos últimos anos, tem só R$ 109,78 em duas contas, na Caixa Econômica e no Santander. De Olavo Moura, irmão de Fernando que também recebia suborno, segundo o lobista e delator, o Banco Central encontrou R$ 5.881,58.
O irmão de Dirceu, Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, tinha R$ 13.791,75 no Banco do Brasil.
De Roberto Marques, que foi um dos principais auxiliares de Dirceu e é funcionário da Assembleia Legislativa de São Paulo, foram bloqueados R$ 533,56. Em petição apresentada ao
juiz Sergio Moro, Marques dizia que não tinha dinheiro para ir até Curitiba entregar o passaporte. O juiz autorizou que ele entregasse o documento por meio de um procurador.
O Banco Central encontrou o maior volume de recursos na conta de Julio Cesar dos Santos, auxiliar de Dirceu que serviu de laranja ao ex-ministro ao comprar dois imóveis para ele: R$ 230,7 mil. Uma empresa de Julio Cesar, a TGS Consultoria, foi usada para a compra de uma casa em Vinhedo ao lado do local onde Dirceu vivia e o imóvel onde a mãe do ex-ministro mora, em Passa Quatro (MG). Ele confessou que serviu de laranja para Dirceu na compra dos dois imóveis.
Se dependesse dos recursos em caixa da empresa de consultoria, o ex-ministro não conseguiria comprar imóvel algum: a TGS tem R$ 62,68 na conta que mantém no Bradesco.