Um
dia após o início da divulgação dos dados da delação da Odebrecht, o
PSDB reagia de forma descoordenada à saraivada de acusações sofrida pela
sigla. Até
por não estar citado no caso, o prefeito paulistano, João Doria, é
visto internamente como o grande beneficiário da confusão. Nas
palavras de um dirigente da sigla, “o partido está sendo dizimado” e
seria preciso criar uma estratégia para evitar o mesmo destino do PT,
que foi moído politicamente pela Lava Jato.
O mesmo tucano diz que “a gravidade joga a favor” de Doria na eventual postulação à Presidência em 2018. A
delação atingiu em maior ou menor grau toda a cúpula tucana. Alvo de
cinco pedidos de inquéritos e em situação grave, o presidente da sigla,
senador Aécio Neves (MG). Vários
de seus escudeiros estão na lista do ministro de Edson Fachin com
pedidos de abertura de inquérito. Um deles pondera que pode haver
arquivamentos e, no longo prazo, até absolvições, mas o impacto político
é irreversível no primeiro momento.
No
Senado, onde 6 dos 11 parlamentares tucanos foram parar na lista, o
clima era de velório. Não houve quórum para sessões de comissões na
quarta (12) e a dispersão era evidente. Alguns senadores ficaram de se
falar ao vivo após o feriado da Páscoa. Também
no que internamente o partido chama de “lista da morte” dos políticos
mais enrolados, o senador José Serra (SP) igualmente buscou refúgio em
sua base.
Em
reuniões separadas, assessores buscavam informações mais precisas sobre
o teor das acusações nas delações, um pesadelo logístico já que a
imprensa teve acesso primeiro aos dados. Tucanos próximos do senador, como o chanceler Aloysio Nunes Ferreira e o deputado Jutahy Jr. (BA), também estão na lista. Já
o governador Geraldo Alckmin (SP), que até aqui só sofreu uma acusação,
mas que envolve um cunhado seu, tentou manter a normalidade com agenda
no interior paulista. Em Cerquilho, disse que os delatores “é que devem
explicar “o teor da denúncia contra si.
Após
passar a noite de terça (11) em reuniões e consultas com assessores do
governo e de fora dele, Alckmin buscou demonstrar bom humor à sua equipe
ao longo do dia. Seu caso será decidido pelo Superior Tribunal de
Justiça, onde tem foro.
SALVE-SE QUEM PUDER
Em
comum aos três tucanos de alta plumagem sob fogo está a sensação de
“salve-se quem puder”. Não houve até aqui nenhuma coordenação entre
eles, repetindo o padrão histórico de desavenças -apenas recentemente
Aécio e Serra aproximaram-se para amarrar a participação tucana no
governo Michel Temer (PMDB) e para tentar barrar as intenções de Alckmin
de ser candidato em 2018. Enquanto isso, em visita a Seul, Doria surfou como pôde e com o cuidado de não melindrar seu padrinho, o governador paulista.
Disse
o óbvio, que o caso desgasta políticos tradicionais inclusive do PSDB,
mas nesta hora obviedades indicam rumos, e ressaltou confiar que Alckmin
é inocente. Desde
que emergiu como liderança potencial do partido para 2018, Doria tem
mantido postura de candidato e ao mesmo tempo apregoado que seu voto é
do padrinho. Para reduzir a pressão e o escrutínio que acompanham sua condição, admitiu até aqui que poderia pleitear o governo do Estado.
No
PSDB, apesar de a preocupação ser a defesa imediata, ao menos dois
integrantes da cúpula avaliam que o partido terá de contar com Doria, em
dupla ou não com Alckmin a depender da Lava Jato, para evitar que o
partido seja desestruturado. O
antipetismo segue forte no Sul e Sudeste, como o panelaço durante o
programa de TV petista na noite de terça lembrou. Não é casual que Doria
critique Luiz Inácio Lula da Silva sempre que pode.
Hoje,
o PT se fia na figura do ex-presidente, ele mesmo uma estrela da
divisão sem foro privilegiado da lista de Fachin. Sob investigação em
cinco casos, Lula pode até ficar inelegível se condenado em duas
instâncias. Fora do campo tucano, há três presidenciáveis potenciais que se beneficiam de ausência de complicação na Lava Jato até aqui. Ciro
Gomes (PDT) espera que Lula lhe dê apoio, Marina Silva (Rede) angustia
seus simpatizantes por não se definir candidata e o deputado Jair
Bolsonaro (PSC-RJ) se mantém nos 10% de intenção de voto com um discurso
agressivo de extrema direita.